“As pessoas têm que crer no trabalho da Defensoria Pública”, aconselha assistido

Atuação da Defensoria Pública encerrou um problema de 30 anos. Tiago Neves, 70, conseguiu uma nova via da Certidão de Nascimento.

Por Jeanne Maciel
29 Jul de 2022, 2 anos atrás
“As pessoas têm que crer no trabalho da Defensoria Pública”, aconselha assistido

 

Em 13 de janeiro de 1976, Tiago Neves vivia um dia normal. Entre as tarefas e afazeres, o jovem, que tinha 25 anos, iria até a Divisão de Segurança e Guarda Territorial do Amapá, à época uma casinha simples com portas de madeira no centro de Macapá, para buscar sua Carteira de Identidade. O que ele não sabia era que só iria conseguir emitir um novo documento 40 anos depois.

Tiago, que agora já é um senhor de 70 anos, há 30 andava de município em município tentando resolver um problema que o importunava.

Conhecido pelos órgãos de emissão de documentos, ele queria tirar a segunda via da Carteira de Identidade, mas durante os percursos da vida perdera a Certidão de Nascimento, restando apenas uma cópia praticamente ilegível.

Tolhido pela falta do documento, em março deste ano ele teve uma luz para o problema que o assolava. Ao procurar o Fórum do município de Porto Grande, foi atendido pela Defensoria Pública do Amapá (DPE-AP), que conseguiu o contato com cartório de Gurupá, interior do Pará, onde o idoso havia sido registrado.

Tiago Neves relata ter procurado diversas formas para conseguir a certidão de nascimento e tirar os novos documentos, mas nunca tinha respostas positivas. “Disseram que o cartório nem existia mais”, lembra.

Entre as dificuldades do assistido, que é aposentado rural, sacar o benefício era o que mais o preocupava. “Eles não aceitavam mais. Um dia fui em Macapá e se não tivesse minha carteira de trabalho, não tinha tirado o dinheiro porque não aceitaram minha identidade”, detalhou.

Além da falta de documentação, o idoso é invisibilizado de outras formas. Tiago mora na Zona Rural de Porto Grande em um lugar onde não há endereço registrado e não possui, sequer, um número de telefone.

Segundo o defensor público Guilherme Amaral, que atendeu o assistido, pelas dificuldades de contato foi necessário fazer uma ‘vasculha’ para encontrá-lo.

“Falamos com o Cartório de forma extrajudicial, mas o assistido precisava assinar um documento, então começamos a procura”, explicou Guilherme.

A assessora jurídica Rosielli Gomes, que trabalha no Núcleo Regional de Porto Grande e também é moradora do município, foi quem ajudou nas buscas pelo assistido, o qual chama respeitosamente de “Seu Tiago”.

Rosielli ligou para um conhecido que trabalha no Superfácil e com a ajuda do órgão conseguiu localizá-lo. "Eles já o conheciam porque ele sempre procurava o local para tentar tirar a segunda via da carteira de identidade”, relatou.

Com o documento assinado, era o início do fim de uma jornada que nada encontra, nada alcança. Na quinta-feira, 21, ele voltou a Defensoria Pública para receber o documento.

“Quando o atendente veio com o pacote meu coração bateu mais forte”, relembra a sensação. No mesmo dia, Tiago deu entrada na carteira de identidade. “Foram muitos anos andando atrás”, justificou.

No último sábado, 23, enquanto aguardava um novo atendimento, desta vez na Carreta da DPE-AP, ele sorriu e exibiu a Certidão de Nascimento nova. “Vou guardar com muito cuidado”, disse.

Do senhor que se perguntava “será que vou morrer sem pegar esse registro na minha mão?”, Tiago agora se empolga com as possibilidades e dá um conselho: “as pessoas têm que crer no trabalho da Defensoria Pública".