Atuação da Defensoria conquista posse de terra para agricultores familiares em Porto Grande

Foi constatado que as famílias residem no local há mais de 30 anos.

Por Caroline Mesquita
23 Out de 2024, 2 meses atrás
Atuação da Defensoria conquista posse de terra para agricultores familiares em Porto Grande

 

A Defensoria Pública do Amapá (DPE-AP) assegurou uma vitória importante em favor de Valdenor Vicente Ferreira e seus filhos, Evanita e Pedro, que detém a posse dos sítios São Francisco, São Pedro e Deus é Fiel. Eles foram acusados de invasão de terras em uma ação de reintegração de posse movida pelo proprietário de uma fazenda, em Porto Grande.

No dia 3 de outubro, a Justiça concedeu tutela de posse à família Vicente Ferreira, após ficar constatado que eles já residiam no local há mais de 30 anos, com plantações estabelecidas e moradias ocupadas pelos familiares. A Justiça concluiu também que as provas documentais e testemunhais apresentadas pelo autor não foram suficientes para comprovar que ele exercia a posse sobre o bem em disputa.

“Faz mais de 30 anos que moro aqui com a minha família. Quando cheguei, comecei a limpar a terra com a foice e aqui cultivamos várias coisas, como abacaxi, banana, mandioca, cacau, cupuaçu, hortaliças. Também produzimos farinha e tucupi. Essa terra é cuidada pela minha família. Quando eu me for, meus filhos e netos ficarão aqui. É o nosso lugar”, comemorou o idoso.

Entenda o caso

A ação de reintegração de posse foi proposta após o dono de uma fazenda da região alegar que parte de suas terras havia sido ocupada pela família em outubro de 2022, com supostas práticas de incêndio em áreas de preservação ambiental e cercamento de terrenos. Inicialmente, uma liminar foi concedida a favor do autor, determinando a reintegração de posse.

No entanto, durante o cumprimento da decisão, o oficial de justiça constatou que as famílias dos réus já residiam há mais tempo do que citado no processo, inclusive com moradias com indícios de terem sido construídas há muitos anos e plantações na área, o que levou à revogação da liminar.

Posteriormente, as partes se manifestaram no processo. O defensor público Pedro Vinícius Ferreira Pinto, coordenador do Núcleo Regional de Porto Grande, destacou que a família reside na área há três décadas. Além disso, o sítio São Francisco já foi mencionado em outro processo, no qual foi reconhecido que Pedro Vicente detém a posse da terra. As áreas são assentadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).

“A alegação que as famílias teriam invadido o local em 2022, mediante a realização de queimadas e iniciado construções é totalmente ilógico, pois é impossível deixar a área em dois anos da forma que foi encontrada durante a inspeção judicial. Seu Valdenor Ferreira criou gerações de filhos, os quais, hoje, o ajudam na agricultura e também exercem posse dos sítios”, considerou o defensor.

Tutela de posse

A Justiça concedeu tutela de posse em favor da família Vicente Ferreira, garantindo que eles possam permanecer nas áreas que ocupam.

Evanita comemorou o resultado. Ela contou que chegou ao terreno junto com seu pai. Na época, era mãe solteira e estava com sua filha ainda pequena. O processo de reintegração de posse afetou sua saúde, e a decisão judicial trouxe um pouco de alívio.

“Hoje minha filha é técnica em agropecuária, casada e tem filhos. Todos nós ajudamos nos sítios. Depois de 30 anos, aparece uma pessoa dizendo que somos invasores, como se fôssemos ladrões. Me senti humilhada, chorei muito e até desenvolvi ansiedade, porque esse processo já dura mais de dois anos. Mas a justiça não falha.”

Para o defensor público Pedro Vinícius, o autor não deveria ter ajuizado uma ação contra as famílias e sim contra quem lhe vendeu a terra, pedindo a devolução do que pagou a mais.

“As famílias exercem posse antiga sobre os imóveis e possuem plantações estabelecidas, tanto para subsistência quanto para venda. Desde 2012, a produção é entregue ao Programa de Aquisição de Alimentos do Governo Federal, sendo essa a principal fonte de renda da família. Continuaremos atuando para garantir que seus direitos sejam respeitados e reconhecidos judicialmente”, afirmou o defensor.