“Ser chamada pelo meu nome é sentir que finalmente eu existo”, comemora mulher que retificou documentos com atuação da DPE-AP

Conheça a história de Margot Inajosa, atendida no projeto “Reconhecer é Parte de Ser” em 2024.

Por Ingra Tadaiesky
27 Jan de 2025, 4 meses atrás
“Ser chamada pelo meu nome é sentir que finalmente eu existo”, comemora mulher que retificou documentos com atuação da DPE-AP

 
O projeto “Reconhecer é Parte de Ser” está na sua 4ª edição e ao longo de quatro anos muitas histórias tiveram um capítulo especial, graças à atuação da Defensoria Pública do Amapá (DPE-AP). Uma dessas histórias é a da Margot Inajosa, que graças ao projeto, aos 25 anos, conseguiu ter em sua Certidão de Nascimento o nome e o gênero que sempre se identificou.

Margot participou da edição de 2024 e fez parte dos 80% de casos que obtiveram sucesso, já tendo em mãos sua nova Certidão. O sentimento de alegria que Margot descreve é diferente de tudo o que já sentiu. Segundo ela, tudo mudou em sua vida após a retificação.

Quando ia ao cinema, viajava, ou até mesmo na chamada da faculdade, Margot sentia o peso de não ser identificada como a mulher que era. Sentia medo desses momentos, e o medo a enfraquecia. Para ela, receber sua Certidão foi a chave que permitiu que a vida fosse mais fácil.

“A sensação é indescritível, de que a vida ficou um pouco mais fácil, de que eu estou sendo validada como pessoa, como mulher, como a Margot que eu sempre fui e sempre vou ser. Mudou minha vida completamente. Pode parecer que é só um papel mas isso muda a vida em detalhes do dia a dia que são impagáveis. Ser reconhecida por quem sou, ser chamada pelo meu nome, é sentir que finalmente eu existo”, comemorou ela.

Para que isso fosse possível, Margot compareceu à sede da DPE-AP com todos os documentos necessários na última edição do projeto. Elena Rocha, coordenadora do Núcleo Cível de Macapá, explicou que se a pessoa que deseja realizar a retificação tiver todos os documentos e certidões necessárias em mãos, já no ato de solicitação, o processo corre com muito mais agilidade.

“É importante ressaltar que se a pessoa comparecer já com todos os documentos e certidões necessários, a chance de seu processo de retificação ser mais rápido é muito maior”, disse a defensora.


Relação com a família

A transfobia faz parte da vivência trans. Conviver com o preconceito é uma batalha árdua e que exige muita força. Na família, muitas mulheres e homens transexuais não são aceitos e sofrem com o abandono e o desamparo. O lugar que deveria ser de acolhimento, acaba se tornando mais um espaço de exclusão.

Esse não é o caso de Margot.

Margot Inajosa foi aceita e abraçada pela família, que a apoiou durante todo o processo de transição. Aos 10 anos, quando começou a entender que o gênero de seu nascimento não era o que ela sentia dentro de si, foi pesquisar e ler na internet sobre aquilo que sentia.

“Desde essa época comecei a conversar com a minha família sobre a transição, bem novinha mesmo. Só que naquele tempo não era um assunto muito falado, foi um choque para eles e nisso passamos mais de 10 anos dialogando e amadurecendo esse pensamento. Nunca me disseram que eu não faria a transição, só me pediam para aguardar um pouco, para que eu amadurecesse um pouco mais porque sabíamos que não seria fácil”, disse ela.

Ediane Feijó, mãe de Margot, contou que foi um momento difícil. Ela explicou que quem vivência de fora tem uma outra percepção, mas quando se vive isso na família, com uma filha, a preocupação é latente mas que, no caso delas, o amor falou mais alto.

“Não foi fácil. Tivemos longos anos de aceitação, de entendimento. Lá atrás, a Margot não tinha maturidade e isso me doía porque eu pensava como a sociedade julgaria minha filha, se ela ia ser aceita ou não. Sabemos que o preconceito é real, mas em momento algum, como mãe, eu pensei em abandonar minha filha. Pelo contrário, eu a amo e só queria ver ela feliz nesse processo, porque não é só a pessoa transiciona, é a família inteira”, disse a mãe.

Aos 21, Margot iniciou sua transição e, segundo ela, foi a realização do maior sonho da sua vida, pois conseguiu finalmente ser quem sempre foi.

“A minha transição era um sonho para mim, foi o primeiro sonho de vida que eu realizei. Lembro quando eu transicionei e caí em mim e falei ‘nossa, isso aqui é o que eu sonhei minha vida inteira e agora eu realizei’, e desde então eu me sinto muito motivada a correr atrás dos meus sonhos”, comemorou ela.